CONTO REFRACTADO E DA VIAGEM






I

de ida





a estrada era muito larga. ao fundo alguém espreita de um comboio que se arrasta na paisagem e ouve-se um silêncio que sai por impulso da montanha. saíram de manhã bem cedo. duas malas pequenas. uma com roupas de um verão que ainda não existia, pelo menos ali. a outra cheia de incertezas miudinhas e lentas perspectivas. ela mete a mão dentro do saco da fotografia e diz-lhe no seu timbre matinal: - pára, por favor. está uma luz quase perfeita. e o sítio. fotografou o que ouvia da berma da estrada. o comboio ao fundo. a montanha ainda cortada e aparentemente sem motivo. ele diz-lhe: - é um lugar demasiado aberto para ter sido uma outra coisa que não isto. ela acena com a cabeça e entram no carro. trazem com eles a certeza muito funda de não haver um destino. e isso é demasiado nítido nos seus rostos cheios de um tempo que ainda não existia.





II

e volta





uma sala vermelha. um dedo apontado para cima na ponta dos lábios a dizer: - chuuu!!! ela diz-lhe: - esta sim. esta é a hora da revelação. ele mantém-se fixo com o mesmo dedo apontado para cima, mas agora o som é o das imagens que pernoitam nas suas cabeças, e ao invés do submundo o tempo continuava a não existir na hora imprecisa do relógio-bomba.



III

e da revelação das(nas) falas



(enquanto as imagens iam aparecendo lentamente pelos líquidos no rectângulo branco)



- és o meu amor, sabias?

- sei-te. vou-te sabendo e sabes-me.

- é por isso que eu te quero assim, livre e larga. porque somos de subir mais alto e acima disso como dois famintos do novo. somos?

- somos. somos de subir acima disso e de chegar ao alto e subir paredes mais altas ainda.

- somos dois pontos muitos pequenos e imensamente próprios.

- dois pontos unos.

- dois. pontos. imensamente. unos.

- unidade de ser-se livre.

- a unidade do amor.

- unidade de amar a peculiaridade do outro e de encontrá-lo.

- e o risco que isso comporta.

- e as portas que isso abre.

- abrindo.







que é como quem diz: portas.



palavra arrancada de um saudosismo que sara num futuro que se abra. a imagem desconheço e a música, 7 nation army, é remisturada pelos nostalgia 77.

Minha foto
PORTO (ilha de Tuvalu)
........................gra(')f.ico.ismo.onola.......... demasiado colado à palavra para ser uma outra coisa que não isto. utopia de mim, abismos da imagem arrancada e digerida.

devaneios, impressões, reflexos disto e afins

a fotografia vista por tanta gente


o outro blog mais do corpo

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